BORGES E AS VEREDAS QUE SE BIFURCAM
Borges: Um Ensaio Fractal
"...que está página?...é, de algum modo mágico, o dom do inacessível tempo em que se escreveu e, o que sem dívida não é menos íntimo, o do amanhã e do hoje".Jorge Luís Borges Buenos Aires, 13 junho de 1968 Antologia Pessoal
No texto O Jardim das Veredas que se Bifurcam, Borges brinda-nos com um relato metafísico que abala as concepções de linearidade temporal presentes na física clássica; o tempo mostra-se caótico, fractal, nos moldes de Ilya Prigogine, no livro O Fim das Certezas: Tempo, Caos e as Leis da Natureza¹. A narração é iniciada com a imposição verossimilhança histórica, baseando o relato no livro História da Guerra Européia. Inicialmente, Yu Tsun - chinês craido num jardim labiríntico de Hai-Feng, neto de Ts’ui Pên - vê-se perseguido por Madden, agente da inteligência inglesa. Yu, tentando realizar a sua última missão, contata um sinólogo - Stephen Albert - o qual lhe apresentará a obra de seu avô, um livro e um labirinto. Considerando os constituintes estruturais da prosa de ficção: personagem, foco narrativo, tempo e espaço; o terceiro elemento será o fulcro da nossa análise, buscando estabelecer um paralelo entre o o tempo - no relato - e a Teoria do Caos. Antes de adentraro ponto principal (livro e labirinto), é curioso notar o percurso do protagonista antes de conhecer o sinólogo: Yu, caminhando por um labirinto, torna-se "conhecedor abstrato do mundo",ocorre a anagnóriks aristotélica, passagem do não saber ao saber, do desconhecedor ao conhecer. Após essa peripécia, o romance de seu avô, "O Jardim das Veredas que se Bifurcam", vem à tona. Albert explica a estrutura do romance partindo de uma citação de Ts’ui; "Deixo aos vários futuros (não a todos) meu jardim de veredas que se bifurcam"*. A partir daí percebe-se a opção de Pên, o protagonista de sua narração não se decide apenas por uma ação, mas simpor todas, tornando quaisquer futuros possíveis. Ts’ui não escreveu um livro e nem edificou um labirinto; criou um livro-labirinto que funciona como símile do tempo espiralado, sendo possível pular de uma parte para outra sem ocorrer perda do nexo. O tempo é alinear, espiralado; é possível ao seu redor traçar minúsculas e infinitas semiretas, cada uma convergindo para uma possibilidade, um futuro, um vórtex, transmudando-se num fractal. O NJR, convencido da importância da interdisciplinaridade, busca, através de seus estudos, divulgar a arte e a ciência, atualizando seu pensamento com obras como a de Catherine Hayles², que discute os paralelos entre áreas anteriormente díspares.
RENATO PIGNATARI
* Ts’ui utiliza o termo futuro numa semântica temporal; também é possível levar em consideração uma sinonímia com linhagem (observar o aspecto futuro do termo).
Notas bibliográficas1. PRIGOGINE. Ilya. O Fim das Certezas: Tempo, Caos e as Leis da Natureza. São Paulo, Ed. da Universidade Paulista, 1996.2. HAYLES, N. Catherine. Chaos and Order. Complex Dynamics in Literature and Science. Chicago/LOndon, The Chicago Univ. Press, 1991.
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